Blog

É sempre a nossa história

Qual o poder de uma história bem contada? Ela nos convida a romper a fronteira do nosso eu e nos identificar com o humano. Costumamos ter mais facilidade para ter empatia por aquele que entendemos que é parecido conosco: se sou uma adolescente de 13 anos de classe média cujo maior medo é engravidar, eu vou me identificar facilmente com uma heroína de 13 anos que engravidou – nossa, contar para a escola, contar para os pais… minha identificação é direta. Já para essa menina de 13 anos se interessar pela história de, digamos, um senhor de meia idade que mora na rua, essa história vai precisar ser bem contada. Convencer. Puxar essa menina para uma imersão estética na qual a mágica se faz: eu, humano, me comovo com a história de outro humano. Boas histórias fazem isso. Não preciso ser judeu para me comover com histórias que narram o holocausto, não preciso ser mulher para me interessar por histórias que narram sobre mulheres, ser gay para me interessar pela história sobre um personagem gay, ser coreano para vibrar e torcer muito para que Parasita leve as estatuetas. Que bom que levou!

Já vivemos um tempo em que essa mágica do particular virando universal por meio de uma história bem contada seguia sempre a mesma fórmula: o particular era sempre o mesmo, sempre os mesmos grupos, como se aqueles que não pertencessem a esses grupos fossem exóticos e suas aventuras e desventuras não dissessem respeito a todos. Como se suas dores não importassem, fossem “problemas deles”. Hoje, com a pluralidade maior de autores e narrativas, entende-se (ou caminha-se para entender) que qualquer particular, e não apenas alguns particulares, pode nos conduzir ao universal. Mais: que por trás das diferentes origens, classes sociais, gêneros estão os problemas de sempre: causados pela ganância humana, pela exploração, falta de amor; lá está nosso medo, nossa solidão, nosso egoísmo, nossa violência…

Não é a história “deles”, é sempre a nossa – sou humano e nada do que é humano me é estranho, como escreveu Terêncio na Roma antiga. Histórias bem contadas nos lembram que somos todos humanos, que toda vida importa, que a nossa empatia pode ser muito mais vasta do que a nossa bolha e que é urgente nos transformamos profundamente como indivíduos e como humanidade. Viva a diversidade!!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *