Poucas horas depois de sair da prisão, Estevão virou pó. Foi assim. Estevão era um poeta que foi preso após publicar poemas com versos livres — sua licença lhe dava direito de publicar apenas poemas rimados. Quando ele foi libertado, soube que sua licença poética havia sido cassada e que a partir de agora só tinha autorização para escrever sobre como ganhar dinheiro de acordo com a visão quântica. Após caminhar por ruas vazias, chegou desolado em casa, onde morava com seu amigo Joel, e a única coisa que o animava era reencontrar seu cachorro.
— Cadê o Ulysses? — Estevão perguntou, após assobiar pela casa.
— Puxa, cara, lamento, mas ele foi recolhido — Joel respondeu, tomando um copo d’água.
— Como assim, recolhido?
— Recolheram todos os cachorros que se recusavam a aprender a falar. Eu me esforcei, todos os dias dava aula para o Ulysses, mas ele continuou latindo.
— Será que é porque ele é um cachorro?
— Disseram que era má vontade da parte dele e que ele não havia se esforçado o suficiente.
— Puxa vida! Ei, não tô vendo as plantas… E as plantas aqui de casa? A samambaia?
Trecho do meu conto “A culpa é dos poetas”, que faz parte do livro Tem alguma coisa na água, que pode ser adquirido aqui.
Para ler o texto na íntegra, só entrar no site da Revista Gueto